quarta-feira, 30 de junho de 2010

PEDREGULHOS



Caminhávamos todos os dias uns três kilometros para podermos chegar ao lugar onde poderíamos aprender nossos primeiros be a bás, a caminhada era difícil, pois a estradinha que percorríamos era cobertas por afiados pedregulhos das diversas rochas formadas na nossa região esquecida de que ali poderia ter pessoas com uma vontade imensa de conhecer o verdadeiro futuro, que para nós parecia não chegar nunca, eu e mais três amigos entre eles Dalva uma amiguinha com teus doze anos éramos unidos para tudo, até mesmo para contar nossas anedotas quando parávamos um momento debaixo da seringueira, pois além do difícil acesso pela estrada o sol escaldante corroia nossos frágeis cabelos, o que me fez vim até a este que vós escreveis neste momento e para contar o que nós reservava em um dia onde tudo parecia calmo e tranqüilo, até mesmo na nossa caminhada em direção ao lugar este que construído por Dona Dorotéia onde aprendemos um pouco do que podemos chamar de leitura e escrever nossos nomes, Dona Dorotéia que já tinha tido a oportunidade de se encontrar com o tal futuro promissor em suas andanças, se casara com o Sr. Fortunato este que sempre fora um grande pecuarista de nossa redondeza, não sentindo-se bem em viver longe do que sempre o fazia enxergar ao longe no sentido de plantar, colher e criar um pequeno rebanho de carneiros e algumas cabeças de gado, fizera com que conquistasse o coração de sua esposa que se formara em uma escola mais graduada na cidade grande, para ajuntar-se a ele naquele lugarzinho onde parecia ser tão promissor, com o passar dos dias e meses Dona Dorotéia começou a fazer diversas visitas nas pequenas propriedades em volta de suas terras que eram de maior quantidades, e em suas visitas chegara em frente ao nosso velho cochete, onde fora recebida com os latidos do pequeno mascotinho de casa um xuaua, eu que estava na companhia de Pedro Henrique irmão de Dalva sentados sobre o frio ladrio de nossa varanda fomos até aquela que no momento ainda era Uma Estranha, após se apresentar quis saber de mamãe, ela que no momento ainda recolhia uns pedaços de uma carne charqueada por papai no dia anterior, vendo que alguém havia chegado deixou por um momento teus afazeres veio toda sorridente em direção a visita que acabara de chegar, colocando sua montaria amarrada sobre um pilar de eucalipto que sustentava um enorme tambor onde era tipo de reservatório d água, desmontando e cumprimentado todos nós pediu que gostaria de falar sobre educação, mamãe tadinha ela que também sempre acompanhou meu pai nessa batalha de ilusões por dias melhores não teve oportunidades de conhecer nem as primeiras letras do alfabeto, mesmo assim era muito educada e oferecendo nossa simples casa para aquela que chegara cansada pelo desgaste demonstrado em teu rosto, sentando se e com uma bolsa de couro resistente onde trouxera diversos livros, estes que ao abrir mostrava um mutuado de risquinhos pretos, ao perguntar para ela o que seria respondeu me com um sorriso são letrinhas, resmunguei hummm... Depois de esclarecer minha curiosidade aceitou um copo com água retirada das profundidades de nossa cisterna, conversaram bastante e a todo o momento eu percebia que aquela mulher ali estava com boas intenções só que no momento eu ainda estava perdido de tudo inclusive do que se tratava essa educação que ela tanto insistia falar, entendi sim quando ela perguntou quantos meninos a senhora tem aqui? Mamãe respondeu em casa tenho dois esse ai e o Jardel, bom e esse outro e parente ou um vizinho, a este ai e o Pedrinho mora na baixada aqui perto mesmo de casa, e tem uma irmãzinha também a Dalvinha, ela continuou bom gostaria de saber se a senhora permitia teus filhos participarem da minha escola, estou acabando de construir na minha propriedade uma sala onde poderei dar continuidade na educação, eles já estudaram antes? Olha dona... A sim sou Dorotéia muito prazer, então como eu ia dizendo esses meninos ainda não tiveram essa chance não, e eu estava até falando estes dias com meu marido que deveríamos sacrificar um pouco e levar esses meninos até a vila, para que eles ao menos aprendam escrever teus nomes, mais se a senhora veio até a nós oferecendo o que procurávamos e claro que eles participaram sim, e vou pedir para que Pedrinho vá chamar a sua mãe porque ela também vai gostar muito dessa idéia, não... Não e preciso incomodá-la eu mesma irei até a ela e farei o mesmo convite, olha assim que eu estiver com tudo organizadinho aviso vocês tudo bem! Tudo bem confirmou mamãe, e eu perguntei dona ontem vi passar lá pra suas bandas um caminhão granduso... Há sim são as carteiras que ganhei com a doação da secretaria de educação lá da cidade que irá me apoiar nesse projeto educação no sertão, bom vou ver se consigo falar com sua mãe Pedrinho, ele disse vou à frente fazendo companhia, e fomos juntos eu, Pedrinho e aquela mulher que trouxera uma novidade muito boa para nos, e eu pensava o tal futuro da escritura pelo menos está chegando, não passava do meio dia quando chegamos à casa de Pedro onde fomos recebidos por Dona Donizete ela que estava na desbuia de umas espigas de milho, deixando-os de lado e recebera também com alegria aquela simpática visita, depois de se apresentarem e de Dona Dorotéia ter comentado sobre a suposta sala de aula, Dalva que ajudava nas tarefas de casa suspirou de felicidade e comemorou obaaa... Enfim vamos ter alguém para ensinar os segredos das escrituras, e Dona Dorotéia maravilhava com aquela alegria toda.
Depois que Dorotéia retornou para suas terras ficamos na esperança de que ela voltasse logo, pois agora a vontade era imensa dentro de todos nós, sentamos e começamos a contar os filhos de nossos vizinhos e chegamos a uma conclusão de que a tal sala de aula deveria ser enorme, pois conseguimos lembrar-se de uns quinze amiguinhos que esperavam também, por esse momento, quando Ananias que era meu pai chegou fui o primeiro ir a sua direção e Fabiano meu irmão de maior idade que a minha, e contando-lhes o que havia acontecido naquele dia, papai perguntou a minha mãe que boberada e essa mulher que Jardel está dizendo, mamãe respondeu bobagem não homem do céu e pura verdade olhe aqui uns livros que Dorotéia deixou papai desfolhando um dos livros no momento até gostou da idéia, mas percebi que ao fundo algo deixou meio duvidoso por estar acontecendo aquele fato num lugar distante de tudo e esquecido por muitos, disse de onde e essa tal Dorotéia, mamãe respondeu uai homem e esposa do Sr. Fortunato você não ficou sabendo que ele havia trago a mulher dele da cidade para esse nosso finzinho de mundo... E sorriu, papai falou e eu preciso ir ver isso de perto afinal daqui de casa lá nas terras dele e um mucado longe, amanha vou ver se aparto um tempinho para ir lá ver como eles vão se ajeitar com esses meninos todos, confesso que minha ansiedade era tanta que já não queria brincar com nossos cavalinhos feitos de bambu, e curioso olhava folha por folha do livro deixado por Dona Dorotéia, papai esteve sim esteve nas terras do Sr. Fortunato e contou-nós que era muito bem arrumadinho, onde as carteiras poderiam acolher até mais de um menino, e confirmou o que eu havia dito há ele dias atrás, depois de duas semanas tivemos a visita do Sr Fortunato trazendo a resposta tão esperada por mim e Pedrinho, este que falou começamos amanha tudo bem... Comemoramos dizendo simmmmmmmm... E começamos a preparar para o dia seguinte, a ânsia de chegar logo fazia com que aquele dia fosse o mais comprido de todos e a noite demorava a chegar, logo pela manha saboreei uma delicia de qualhada acompanhado com uns biscoitos de polvilho, Fabiano que já estava com o carrinho de tração animal selado e pronto, este que nós levaríamos até a escola prometida por Dona Dorotéia, papai que havia autorizado nossa primeira participação junto aos outros colegas naquele dia, aonde já deixara claro que nós próximos iríamos todos a pé, pois o carrinho era utilizado na colheita do milho, depois de reunirmos fomos em direção daquele que seria nosso primeiro contato com uma caneta, lápis e borracha estes que dividiam espaço dentro de nossos embornais com os poucos cadernos, os três kilometros pareciam dobrar e a demora para avistarmos a ponte que atravessava o rio dos peixes estava longe do alcance de nossos olhos, depois que isso nos aconteceu já estávamos nas terras do Sr Fortunato onde podíamos ver a beleza e alegria das seriemas ao alto do morro, onde pela primeira vez avistei tipo uma gruta mais que passou como despercebidas pelos outros que estavam comigo, ao chegarmos recebemos boas vindas de Dona Dorotéia que fazia companhia para alguns novos amiguinhos que ainda não conhecia, descemos e fomos diretos para uma sala enorme onde as cadeiras eram de fato iguais as que papai falara, em um cômodo ao lado lavamos nossas mãos e foi nós oferecido um delicioso leite queimado com pães de queijo, assim que tomei pela segunda vez meu café da manha, fomos acomodados nas carteiras esta que acomodou eu, Dalva e Pedrinho, meu irmão sentara-se com outros amigos conhecidos a poucos instantes, frente a uma parede com um espaço pintado em preto, Dona Dorotéia começou a escrever as primeiras letras que chamavam-se vogais, pedindo para que tirássemos um caderno, lápis e borracha e acrescentou, agora vocês tentem copiar desta mesma forma que eu escrevo tudo bem? Respondemos tudo bem, confesso que para escrever as cinco vogais eu demorei de quinze a vinte minutos mais que ficaram perfeitos, onde pude receber elogios daquela que carinhosamente tentava entregar-me a oportunidade de ser alguém um dia, e assim fui aprendendo aos poucos, depois vieram diversos deveres dos quais eu dedicava e muito, confundia um pouco quando fazíamos as continhas eu que me lembro bem de números nunca fui apegado, e a tal matemática ainda até nós dias de hoje dificulta muito os aprendizados dos que estão começando, as semanas e meses foram-se passando, e como todo dia nossas noites eram passageiras e nossas manhas nos acompanhavam ligeiras, pois tínhamos que acordar assim que papai e Ataíde este que era o responsável da retira do leite das poucas vacas que possuíamos afinal os três kilometros nos esperava e os pedregulhos afiados também, nesse dia fizera uma coisa que nunca havia feito antes de minha ida para escola, brinquei com minha cachorrinha, abracei fortemente papai e mamãe e ainda brinquei com a maritaca assanhada, e fui acompanhado até ao cochete por um bezerro que eu ajudara no seu nascimento, só não entendi o porquê aquela atitude minha, ao chegar ao cochete Pedrinho e Dalva ajuntou-se a mim e Fabiano, caminhamos rápidos e cuidadosos, pois o sol ainda não nós oferecia uma visão completa, depois de atravessarmos o rio o sol que parecia arder naquele dia deu lugar para uma nuvem negra onde fizera o sol ficar avermelhado e notamos uns riscos cortarem os céus acompanhados como se fosse uma grande corda esticada em chamas, e em minutos um forte temporal devastava tudo até a enorme figueira viera ao chão, e percebi que junto vinham diversos pedaços de pedregulhos pensei que as enormes rochas estavam explodindo, quando estes pequenos estilhaços rochosos tocavam o chão iniciava uma pequena labareda de fogo que instantes se espalhou pelo campo afora onde as lindas plantações de milho e algodões vieram transformar se em cinzas, voltar para casa Seria uma loucura com tantas pedrinhas avermelhadas vindas não sei de onde, a única saída foi convidar as pressas os que me acompanhavam e entramos ainda por uma mata onde diversos coloniões nos cortaram, seguimos em direção a gruta que eu vira no meu primeiro dia naquelas terras, não quis nem saber se já havia alguém ou algum animal se protegendo também ali dentro, era uma pequena fenda em uma pedra com uma altura razoável e propicia para nós proteger, assim que ficamos ali totalmente quase imóveis, pois o espaço era pequeno para que pudesse abrigar nós quatro, em instantes ouvimos diversos estalos e relâmpagos cortando o céu, e uma forte chuva começara como o vento soprava em direção contraria da entrada da pequena rocha que nós abrigávamos pudemos acompanhar tudo com muita dificuldade de visão, notávamos alguma coisa assim que os relâmpagos eram mostrados, e juntos pensávamos em nossos pais, nos nossos amigos, e a nossa escola como poderia estar a este momento? As horas passavam mais a forte chuva não, tudo foi desaparecendo até mesmo a nossa estradinha cheia de pedregulhos foram afogados em meio tanta água, juro que meu corpo doía, minhas pernas pareciam não existir, Dalvinha chorava a todo instante mesmo sendo confortada por Pedrinho, quando pensávamos que estaríamos livres de tudo que nossos olhos registraram até o momento, uma forte tromba d’água veio arrastando tudo pela frente, e pude ouvir sim alguns gritos de socorro, as águas do rio ajuntaram-se com a forte chuva e com o vento que soprava furiosamente devastou tudo que encontrara levando até mesmo meu sonhado futuro, deixando simplesmente o tal do ponto de interrogação que eu já havia aprendido, porque será que está fúria toda vieste até a nós? Será que fomos os únicos a serem atingidos? Não sei se foi o cansaço mais adormeci juntamente com os demais, acordamos com um forte cheiro este que parecia ser enxofre que fez tomar uma decisão, fui saindo aos poucos e procurando apoio consegui um espaço tentando encontrar uma saída para o indefinido caminho que viemos, quando senti que estava seguro chamei pelos que ficaram e cuidadosamente seguiram me, nós que já podíamos avistar alguma coisa em nossa frente porque só uma neblina esfumaçada está que ardia nossos olhos e o cheiro parecia corroer nosso interior, Dalva foi a única a ter vômitos, depois de caminharmos por alguns instantes eu tinha certeza de que estávamos a caminho de casa,pois sentia meus pés pisarem nos mesmos pedregulhos cortantes, quando mais caminhávamos parecia que distanciávamos cada vez mais de nossa meta que seria nosso lar, e em meio de tantas duvidas ainda lembrava-me do que Dona Dorotéia falou-me quando estiver em dificuldades lembre-se que você sempre será mais você, mesmo estando aqui ou não, era o que me dava forças para tentar encontrar nosso caminho, eu ainda que tive as dificuldades dobradas,pois Pedrinho e meu irmão passaram muito mal necessitando cuidados, mais onde arranjaria cuidados naquela hora, gritar sei que não me traria resposta alguma, pois eu até confundia se ainda era dia ou noite se realmente estava vivo ou não, mais tivemos sim o mesmo fim de todos que moravam naquele finzinho de mundo igual minha mãe dizia, e na esperança de alcançar um objetivo a mais nesta minha sofrida vida no físico, me fez entender que mesmo no plano espiritual você pode continuar aquilo que tanto te perseguiu em matéria física, na ânsia de me levar pelo caminho pontiagudos dos pequenos pedregulhos e que me fizeram juntamente com aqueles que estiveram ao meu lado caminhar por um mar de rosas ACREDITANDO que tudo acontece conforme nossos merecimentos, e o que eu aprendera nós meus dias encarnado foi justamente acreditar que um dia podemos ir confiantes de um dia retornarmos.

FIQUEM NA PAZ.

Gabriel.

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